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Fronteiras culturais e lugares sagrados

João Diniz

18 de mar. de 2009

Texto/guia de João Diniz para sua palestra proferida em Vinius na Lituania, em 2009, versando sobre Tradição e Modernidade nos Lugares Sagrados do Brasil

Tradição e Modernidade nos Lugares Sagrados do Brasil

A pintura de 1860 ‘A primeira missa no Brasil’ de Vitor Meirelles (fig. 1),

é importante registro para o estudo dos Espaços Sagrados no país.

É uma cena do ano 1500 que mostra o momento da chegada

e do descobrimento de terras brasileiras pelos navegadores portugueses.

Nesta imagem estão os principais agentes da história da fé no país

que acabava de re-nascer unindo a cultura indígena simples e milenar

à crença cristã européia cheia passado e autoridade.

A natureza ali está como cenário primitivo e eterno,

síntese da aventura americana e berço de transformações vindouras.

Os sacerdotes reverenciam a sua cruz alheios ao espanto dos nativos

que em sua aparente ingenuidade não podem prever seu tenebroso futuro.

A união das árvores, do mar e das terras virgens 

com a paisagem construída ali representada pela geométrica cruz

passaria a ser a síntese da colonização e dos negócios no ‘novo mundo’,

a seriedade e a pesada indumentária dos recém chegados visitantes 

contrasta com uma adaptada nudez e um novo temor indígena.

 

O local da Primeira Missa é hoje o epicentro de um complexo turístico,

e a simbólica cruz é freqüentemente reconstruída marcando o local.

A região de Porto Seguro no estado da Bahia com suas belas praias

vê crescer anualmente a visitação de brasileiros e estrangeiros

o aparecimento de hotéis de luxo e aeroportos estimula a economia,

os indígenas ainda estão presentes, devidamente aculturados

em seus trajes e atitudes, tentam, desde cinco séculos, participar

da sociedade e da economia do país, mas no fundo são a imagem

da incompreensão e da pobreza, sobrevivem do artesanato 

e de uma cultura de subsistência, são como souvenirs distantes

de uma nação em desenvolvimento, que tem poucos olhos a eles.

Por outro lado as primeiras igrejas cristãs e os marcos da colonização 

estão mantidos no local e são palco do crescente reconhecimento

da história e da formação da civilização brasileira onde a fé se mescla

com os negócios do entretenimento e as fotografias dos visitantes em férias.   

 

Mas parte da crença pré-européia sobrevive até hoje no inconsciente.

Uma pan-religiosa fé brasileira sempre há de considerar a Natureza

e sua importância na definição de uma alma nacional, que ao lado

de seu calendário de cultos e celebrações, deposita suas preces

na força, energia e manutenção de nossos cenários primevos:

como a grande floresta amazônica com sua importância planetária, 

o drama humano do sertão com todas suas possibilidades ocultas,

a beleza paradisíaca das praias, o silencio místico das montanhas,

a biodiversidade do Pantanal no centro-oeste do país,

a mata atlântica que luta por sobreviver num sudeste mercantilista,

os pampas e cânions de um sul hispânico onde o Brasil é mais latino.

A luta pelo espírito elevado em oração, no século XXI, há de passar por 

uma postura política de preservação dos recursos e paisagens naturais.

Uma eco-fé que nasce nova, embalada por todos os ventos passados,

pré-históricos, primitivos, ecumênicos, futuristas, uma crença ativa que

os espaços sagrados são aqueles que permitem a durabilidade da vida.

 

Desta forma é interessante notar que os povos indígenas brasileiros

não edificavam espaços sagrados destinados especificamente ao culto.

Celebravam suas crenças e rituais no espaço do dia-a-dia (fig. 2),

ao ar livre, no espaço central das aldeias, no ambiente polivalente das ocas,

na purificante água dos rios, sob as estrelas noturnas, nas danças e cantos,

nos ritmos dos pés, flautas e tambores que ecoam na poeira.

Para eles a existência da fé e da crença no espírito superior,

não implica obrigatoriamente na existência de um local especifico.

O espaço da religião é ao mesmo tempo inexistente e onipresente.

 

Esta polarização indígena-cristã na formação do espírito brasileiro

passa a receber uma nova e poderosa força com a chegada dos negros.

A escravidão e seus fluxos traficantes colocaram no Brasil

a partir de meados do século XVI um grande contingente de africanos

que passam a fazer parte indissociável de nossa historia.

Os escravos eram trazidos para trabalhar na agricultura

mas influenciaram múltiplos aspectos da cultura nacional como

dança, musica, culinária, artesanato, idioma e religião.

Foram duas as principais rotas desde a África ao Brasil:

Os Nagôs e Iorubas que partiam da região de Benin e Nigéria

e chegaram em sua maioria na Bahia no nordeste do país,

e os Bantos que partiam dos arredores de Congo e Angola

e aportaram mais a sudeste e penetraram até o interior.

Estas populações que estavam distantes na África

passam então a fazer parte da população brasileira,

ainda que a escravidão e os mal-tratos os considerassem seres inferiores. 

Do ponto de vista da fé, das celebrações e dos espaços sagrados

estes dois principais vetores vindos de origem africana

produziram diferentes influencias na cultura brasileira.

Os negros de origem Banto desde então promovem a fé

em celebrações conhecidas como Congado ocupando ruas

com um positivo impacto desta fé nos espaços urbanos.

As celebrações de Congado coroam simbolicamente reis negros

nas comunidades cristãs que desde o século XVIII permitiam

a presença de escravos nas irmandades paroquiais.

É um acontecimento que sacraliza os espaços livres da cidade

como local de culto com a presença da musica e da dança (fig. 3)

que contam historias que remetem  a um passado afro-cristão

como a vida de São Benedito, Nossa Senhora do Rosário

e lutas de Carlos Magno contra invasões mouras.

Os Nagôs e Iorubas já celebram sua fé de maneira distinta.

O culto genericamente conhecido como Candomblé

é celebrado em locais específicos, bastante simples mas fechados

conhecidos como Terreiros onde se cultua o deus Olorum

e os dezesseis Orixás numa espécie de panteão sagrado.

A princípio o Candomblé era proibido pelos colonizadores,

o que leva os negros a criarem um paralelismo entre os Orixás

e os santos da oficial religião católica num sincretismo de continentes.

Assim Iemanjá a deusa africana dos envolventes rios e oceanos 

é Nossa Senhora da Conceição com sua maternidade e acolhimento.

Ou Iansã, deusa dos transformadores raios, ventos e tempestades,

É Santa Barbara protetora que protege os fieis contra acidentes naturais.

Xangô que é o deus negro do trovão, da ordem e da justiça corresponde a

São Gerônimo, tradutor da bíblia para o hebraico e para o latim ou a

São João que pregava a unidade e a paz através da fé e batizou Jesus,

que  para os cristãos é mais genuína manifestação divina é associado a

Oxalá, divindade que criou a humanidade e a cultura espiritual e material.

Os demais orixás são Ewá deusa das florestas, astros e lagoas;

Exu, o poder transformador que domina o sexo e a magia;

Ibeji, que rege o nascimento, a infância e o desenvolvimento;

Iroko, que domina o tempo, o clima, a vida e a morte;

Logun Edé deus da riqueza, da fartura e da beleza;

Nanã deusa da saúde, do destino, dos mistérios e dos ciclos;

Obá é deus do amor, das paixões e do sucesso profissional;

Ogum significa a guerra, o progresso e as conquistas;

Omolú está ligado às doenças, à terra e às erupções;

Ossaim rege a medicina, as plantas, a cura, os remédios;

Oxalá representa o poder procriador masculino, a concepção;

Oxosi é o deus da caça, da agricultura, da alimentação e da fartura;

Oxum deusa do amor, da riqueza, maternidade e da fecundidade;

Oxumaré deus dos movimentos constantes, da transformação, da vida longa;

Xangô rege o poder estatal, a justiça, as questões jurídicas.

A celebração dos ritos de origem africana se dão em espaços

de notada e intencional simplicidade com sua celebração rica 

em musica e dança que levam a um transe místico e se organizam

de forma circular onde os participantes principais representam

os Orixás, em torno do mestre principal, ou Pai de Santo (fig. 4),

dos instrumentistas ou Ogãs e dos participantes da comunidade local.  

O Candomblé deu origem à Umbanda religião nascida no Brasil

que cultua os Orixás e mescla aspectos do cristianismo e do espiritismo

introduzindo três novos espíritos: o Preto Velho, o Caboclo e a Pomba Gira.

Esta coleção de divindades e conceitos cosmológicos

é parte da riqueza que a África introduz no continente americano

e principalmente no Brasil num amalgama de raças

e crenças que ajudam a moldar uma nova civilização.

 

A chegada do Ciclo do Ouro no inicio do século XVIII propõe a ocupação

do interior do pais gerando novos pólos produtores de riquezas.

Principalmente o estado de Minas Gerais com suas novas cidades de

Ouro Preto (fig. 5), Mariana, Sabará, Serro, Diamantina e outras, passou a

representar um novo foco econômico e social para a nação.

Pode-se dizer que este momento é uma nova manifestação de

uma genuína cultura nacional onde, devido à distancia da costa e

do contato com a metrópole européia, vários procedimentos colonizadores

tiveram de ser reinventados dando berço a diversas manifestações artísticas

nas áreas da arquitetura e urbanismo, escultura, pintura, musica e literatura.

O espírito religioso, unido a uma interpretação regional do estilo barroco, 

deu luz, principalmente na construção das novas igrejas, a uma 

paisagem urbana inédita onde geografia e construções se integram.

Dois aspectos definem esta imagem de cidade: os monumentos isolados e

os casarios contínuos que lembram as cidades-rua  berberes-lusitanas.

 

O barroco, mundialmente sem fronteiras, encontra ali uma imagem própria.

As igrejas são os monumentos principais das cidades barrocas mineiras

aparecendo, na maioria das vezes, no topo dos morros completando a

paisagem montanhesa com os volumes construídos compostos por 

suas paredes brancas, telhados cerâmicos, torres sineiras que introduzem

geometria construtiva racional, e sons, na natureza sensual e orgânica.

Barroco Mineiro é o nome dado a esta variação regional do estilo mundial,

que dá origem a uma sociedade eminentemente urbana com imagem própria

onde a pedra substitui progressivamente a taipa, e principalmente nas igrejas

se nota uma conjugação típica de curvas, retas e planos nos interiores;

apresentando ampla portada central e simétrica esculpida em pedra-sabão,

de onde derivam elementos como as pilastras, colunas, cimalhas e frontão.

Nestas portadas o dinamismo da e texturas da composição se opõe ao

aspecto plano das paredes em alvenaria caiada e pintadas de branco.

Em planta estas igrejas barrocas fugiam do tradicional esquema retangular,

adotando polígonos e ovais onde os campanários cilíndricos se destacam

da nave principal e apresentam coruchéu semi esférico em seu topo.

Estas características são visíveis em varias igrejas mas estão bem presentes

nas Igreja de São Francisco de Assis (fig.6) e Rosário dos Pretos

que apresenta planta composta de três elipses sucessivas e fachada circular, 

com galilé de três arcos e com originais torres circulares frontais.

O movimento revela mestres locais onde os artistas em seu isolamento 

não se detinham em um único principio estético apresentando soluções 

ricas em diversidade e ecletismo e não reféns de modelos eruditos.

Antonio Francisco Lisboa ou o Aleijadinho, é o nome principal nesta lista,

filho de afamado mestre de obras e de escrava negra aprendeu com o pai

e outros artistas locais e em gravuras européias a que tinha acesso, 

inicia como escultor em talha e pedra sabão chegando a arquitetura.

São bastante conhecidos os seus doze profetas em Congonhas do Campo 

e as 66 estátuas da via sacra no Santuário de bom Jesus de Matosinhos.

Suas obras aparecem em varias cidades de Minas Gerais como 

Tiradentes, Mariana, Ouro Preto, Sabará, São João Del Rey, Nova Lima em

portadas, imagens, altares, retábulos, chafarizes e projetos arquitetônicos.  

Outro nome de destaque é Manuel da Costa Ataíde ou mestre Ataíde,

pintor e entalhador teve grande influencia e muitos seguidores de suas

pinturas em tetos de igrejas onde usava com maestria a cor e perspectiva.

Outros nomes de destaque são Antonio Pereira de Sousa Calheiros arquiteto

da já citada e curvilínea Igreja do Rosário do Pretos (fig. 7) em Ouro Preto, 

Jerônimo Felix Teixeira que projetou a fachada da igreja do Santuário de Congonhas do Campo;

Manuel Francisco Lisboa e Francisco de Lima Cerqueira

com o projeto da igreja do Carmo em Ouro Preto, dentre outros.

 

Mas de todas as fases de sua história com mais de cinco séculos, 

A era moderna, a partir do final da primeira metade do século XX,

é a que melhor indica o caráter e os desejos da nação brasileira.

No final dos anos 1930 uma série de políticos e intelectuais se esforçam

no sentido de colocar a cultura modernista na ordem do dia.

O primeiro grande gesto foi a construção no Rio de Janeiro em 1937

do edifício sede do Ministério da Educação e da Saúde 

projetado por um grupo de arquitetos modernistas 

como Carlos Leão, Affonso Eduardo Reidy, Ernani Vasconcelos

Jorge Machado Moreira e Oscar Niemeyer comandados 

por Lucio Costa e com o aconselhamento  de Le Corbusier,

que visitou o local e definiu varias premissas para o projeto.

Mas o político mais importante para a transformação 

da cultura nacional através da arquitetura e das artes

foi Juscelino Kubitschek que neste período era o prefeito 

da cidade de Belo Horizonte, capital do estado de Minas Gerais,

e decide construir o conjunto de obras junto ao lago da Pampulha, 

área de expansão da cidade, e para tanto convida o então jovem arquiteto

Oscar Niemeyer que concebe cinco projetos de diferentes programas

dentre eles a pequena igreja de São Francisco de Assis obra que 

passa a ser um novo referencial nacional para um local sagrado (fig. 8).

O espaço se configura sob ampla nave de cobertura abobadada e como

nas igrejas coloniais aparecem sob abóbodas menores e opostas à entrada

três espaços menores de apoio às atividades diárias do templo. 

Na parte voltada ao lago esta o acesso principal com marquise de proteção

que se completa na torre do sino equilibrando linhas verticais e horizontais.

O projeto contou com a participação do artista plástico Candido Portinari

nos murais internos e externos e nas aquarelas seqüenciais da via sacra. 

A igreja que hoje é o símbolo da cidade tardou cerca de 20 anos 

para ser consagrada pelas autoridades eclesiásticas locais

por seus painéis artísticos de inspiração profana e por ser concebida

por arquiteto um comunista e ateu algo incompreensível numa época de 

forte polarização ideológica entre tendências políticas de direita e esquerda.

O conjunto da Pampulha, apresenta além de sua famosa Igrejinha,

a Casa do Baile, antigo local de festas e hoje galeria de arquitetura e design;

o Cassino da Pampulha, hoje Museu de Arte Moderna e o

Iate Clube, instituição recreativa privada voltada a práticas náuticas.

Estes quatro edifícios e programas arquitetônicos diferenciados voltados 

ao sagrado, aos festejos, aos entretenimento (hoje cultura) e aos esportes,

sugeriram padrões para uma nova sociedade moderna,

que surgia no otimismo da época e como diz a historia,

‘inventaram a arquitetura moderna brasileira’ que desde então 

passa a ser reconhecida e publicada em diversos locais do planeta. 

 

O mesmo homem publico, JK, e o mesmo arquiteto Niemeyer

voltam a trabalhar juntos quando da criação da nova capital Brasília a partir de 1960.

O plano urbanístico de Lucio Costa prevê junto à esplanada dos ministérios

Numa complementaridade sugerida entre política e religião, poder e fé. 

A catedral metropolitana (fig. 9) mostra desde os croquis iniciais do arquiteto

a busca do espiritual e do superior nas colunas ascendentes que definem

o interior e abrem espaço para a entrada da luz através dos vitrais coloridos.

Estas colunas repetidas dão origem ao um espaço circular e cheio de luz.

Este período da construção de Brasília está associado 

ao começo da industrialização nacional, automobilística e siderúrgica,

à construção das primeiras grandes rodovias e redes de telecomunicação, 

ao reconhecimento mundial da musica brasileira, através da bossa-nova,

às conquistas esportivas no futebol que trouxeram uma nova auto-estima 

e um senso de unidade e identidade à jovem nação em formação.

 

Existem vários outros exemplos de espaços sagrados modernistas no pais,

mas caberia destacar a capela do Centro Administrativo da Bahia

na cidade de Salvador projetada pelo arquiteto João Filgueiras Lima, o Lelé,

reconhecido por seu trabalho sensível com estruturas pré-fabricadas,

tipo de estratégia a principio inadequada para a concepção de um templo.

No caso, a proposição de uma espécie de pétala de concreto define o espaço

através da repetição circular deste mesmo modulo com alturas variadas.

A luz entra pelos espaços deixados entre estes elementos geradores (fig. 10).

Lelé é hoje um dos principais arquitetos brasileiros, suas lições e obras

unem a sensualidade dos primeiros tempos da arquitetura moderna no pais,

que questionava a dureza do racionalismo e do funcionalismo europeu,

a aspectos de sutentabilidade construtiva, de conforto ambiental,

de uso de materiais conscientes, de conservação de energia

e de transferibilidade de conceitos e atitudes perante o meio ambiente.

 

Igualmente definidor de uma abordagem original é o projeto da

Capela de Santana do Pé do Morro idealizada pelo arquiteto Éolo Maia

em área rural próxima a um casarão colonial, sede de antiga fazenda,

que passa a ser usada como casa de recepção e eventos de uma industria

siderúrgica, atividade de grande importância para a economia regional.

O material produzido pela empresa aparece como elemento estrutural

envolvendo a ruína de outra antiga capela existente no local (fig. 11).

Os delgados pilares oxidados de aço dão espaço aos vãos envidraçados

que apresentam também a presença de ornamentos de  madeira 

que fazem referencia a técnicas tradicionais na arquitetura colonial 

de Ouro Preto, não distante de Ouro Branco onde se localiza a capela.  

Neste projeto a união entre passado e presente se faz de forma suave

através da envolvência que a estrutura atual promove na centenária.

O caráter singelo, ou mesmo precário, da antiga construção é mantido

no novo edifício resultante através dos perfis metálicos sem acabamento

revelando o despojamento de uma atitude espiritual profunda e simples.

Este templo é tombado pelo serviço do patrimônio nacional por trazer

de forma única e contemporânea o espírito religioso do estado,

e por unir geografia, materiais locais e tempos da história de forma hábil. 

Éolo Maia capitaneou a partir dos anos 80 no estado de Minas Gerais

o movimento arquitetônico conhecido como ‘pós-brasília’

que propunha a revisão dos cânones modernistas exauridos,

da esterilidade do estilo internacional, da redescoberta do país

através da união das memórias com as novas tecnologias

numa utopia possível anunciadora das questões do século XXI.

 

A pequena Capela dos Ares (fig. 12) que projetei na cidade de Lagoa Santa

para o Campus da Aeronáutica do Brasil quiçá propõe esta união.

Definida por duas cascas continuas de concreto que deixam fluir o ar,

e ladeadas por dois planos transparentes nas faces norte e sul sugere

através da figura integradora do avião, que é a razão de ser do Campus,

o encontro  entre as distancias, entre os pontos cardeais, 

entre os idiomas, entre as nações, entre os ricos e pobres, 

o passado e futuro, entre a vida simples e a justiça ampla.

 

Num mundo cada vez mais aproximado pelas redes digitais

e pelos fenômenos da nossa era da comunicação globalizada,

vivemos num impasse e a cada dia nos perguntamos sobre o futuro,

se as atitudes que adotamos hoje garantirá melhores dias aos que virão.

Neste contexto a religião pode aparecer como fator aglutinador

de culturas e de crenças em torno da idéia do sagrado e do divino

mas pode também surgir como geradora de cisões e ódios vários

dando lugar a conflitos entre irmãos, dividindo raças e territórios.

Aguardamos ansiosos os tempos da paz ecumênica, da tolerância,

do dialogo multicultural que integrará definitivamente o planeta,

respeitando e aprendendo com as diferenças entre os povos.

 

João Diniz, dezembro, 2009

 

Legenda para as imagens:

 

Fig. 1 – A Primeira Missa no Brasil, pintura de Vitor Meirelles, 1860

Fig. 2 – Os povos indígenas e as celebrações ao ar livre.

Fig. 3 – O Congado e os ritos no espaço da cidade

Fig. 4 – O Candomblé e a simplicidade dos locais de culto

Fig. 5 – Ouro Preto, a cidade das muitas igrejas

Fig. 6 – Igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto

Fig. 7 – Igreja do Rosário dos Pretos, em Ouro Preto

Fig. 8 – Igreja de São Francisco de Assis, Pampulha, Belo Horizonte

Fig. 9 – Catedral Metropolitana de Brasília

Fig. 10 – Capela do Centro Administrativo da Bahia, Salvador

Fig. 11 – Capela de Santana do Pé do Morro, Ouro Branco, Minas Gerais

Fig. 12 – Capela dos Ares, Lagoa Santa, Minas Gerais

 

 

 

 

   


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