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OS SETE DIAGRAMAS

Imagens precedentes ao projeto arquitetônico / por João Diniz

OS SETE DIAGRAMAS

Os diagramas, embora existentes desde os primórdios da representação arquitetônica, ganharam na contemporaneidade um novo protagonismo na apresentação de projetos e ideias espaciais. Esta constatação se dá em face da necessidade de facilitar e agilizar a comunicação das soluções de projeto num mundo cada vez mais digitalmente integrado por linguagens simbólicas, e pela internacionalização do exercício profissional através de concursos e publicações diversas, o que muitas vezes requer notações que vão além de idiomas nacionais.

Josep Maria Montaner em seu livro sobre diagramas arquitetônicos discorre sobre a utilidade desta ferramenta gráfica (1):

"Um diagrama é um uma possibilidade, um meio geométrico que permite avançar do indizível para as palavras; isto é, do que não tem forma nem linguagem para o que pode ser formulado, projetado e formalizado. O diagrama estabelece relações e nada nele pode ser supérfluo. Em suma, os diagramas são linhas de força que têm a capacidade de se auto organizar e a possibilidade de ser transmitidos. O diagrama é o menor elemento gráfico capaz de representar uma ideia em andamento. É um instrumento pré-lógico e pré-linguístico. Em arquitetura, o diagrama ainda não é o fato arquitetônico; ele é pré arquitetônico; tem uma forte aspiração pela abstração."

Ao longo do livro o autor discorre sobre a ocorrência histórica dos diagramas em diversas áreas do conhecimento e de suas possibilidades de realização conceitual e gráfica. Diversos autores são citados e explica-se também como cada forma de raciocínio científico ou espacial pode ter uma notação específica. Explicando a abrangência desse tipo de linguagem ele comenta:

"...já foi apontada a existência de uma grande subdivisão inicial, pois, enquanto mediums, os diagramas desempenham uma dupla função. Por um lado, são instrumentos precisos de conhecimento da realidade, com capacidade de leitura dos fenômenos arquitetônicos, urbano e territoriais; eles podem fornecer registros para relacionar as artes entre si; são analíticos, explicativos e reflexivos. Por outro lado, servem para projetar: apresentam processos geométricos e geram soluções; são propositivos. Portanto, ocorrem simultaneamente um diagnóstico e uma ação, um mapeamento e uma trajetória, uma notação e uma criação. "

Na sequência desta explicação Montaner propõe duas modalidades básicas de diagramas arquitetônicos, que são as de análise e as de projeto. Para os de análise são mencionados diagramas com as funções: de legibilidade, de reconhecimento de requisitos, analíticos, formalistas, simbólicos, descritores de proporções e genealógicos. Para os diagramas de projeto são reconhecidas as modalidades de descrições: tipológicas, estruturais, metodológicas, processuais, funcionais, formalistas ou icônicas e urbanísticas.

Tendo em vista nossa prática projetual e construtiva e analisando resultados que tivemos com os diagramas como notações precedentes à explicação de projetos a clientes, bem como na comunicação de projetos de outros autores aos estudantes, chegamos a uma síntese dos tópicos que descrevem análises e soluções de determinado problema arquitetônico. Essa constatação indica sete modalidades de diagramas:

A primeira modalidade diz respeito aos ADIAGRAMAS DE ANÁLISE URBANA E PROXIMIDADES onde são analisadas e descritas as características do entorno, das vizinhanças, das vias relacionadas, as principais referências espaciais relacionadas, as vocações do local, a existência ou não de monumentos, vazios, passagens, visadas, caminhos, acessos, e memórias no sitio em questão.

A modalidade seguinte se refere aos DIAGRAMAS DE ANÁLISE DO SÍTIO descrevendo a insolação específica nos diversos quadrantes do local, os acessos, ruídos na área, a topografia do sítio, suas vizinhanças, vistas, ventos dominantes, vegetação existentes, possíveis acidentes físicos no local, a relação do sitio em análise com o tecido urbano ou com o entorno, os dados da legislação urbana e ambiental existentes e outros aspectos subjetivos que possam ser eventualmente listados.

Em seguida são importantes as avaliações feitas através dos DIAGRAMAS DE DISTRIBUIÇÃO DE PROGRAMA E FLUXOS onde se estuda e propõe a posição dos diversos setores do programa de necessidades e/ou suas indeterminações e flexibilidades, os diversos tipos de circulações, os vazios a serem propostos, as hierarquias espaciais com suas proximidades e distancias.

É também significativa a descrição da ideia arquitetônica através dos DIAGRAMAS EVOLUÇÃO DA FORMA E COMPOSIÇÃO que registram as primeiras intenções formais e volumétricas, a evolução e transformações destes raciocínios espaciais e suas relações com o contexto e programa de necessidades, possíveis exigências de expansão e harmonia entre as partes.

Paralelamente os DIAGRAMAS DE COMPONENTES FUNCIONAIS E ESPACIAIS DO EDIFICIO demonstram a relação entre as partes listadas no item anterior, a posição entre os núcleos de uso ou servidos e os núcleos de apoio ou servidores, como a imagem final do objeto construído revela ou não suas características funcionais.

A fim de destacar as qualidades tectônicas do projeto elabora-se os DIAGRAMAS DE COMPOSIÇÃO DA ESTRUTURA E SISTEMA CONSTRUTIVO que descrevem como se organiza a geometria da construção, os eixos da composição formal, as diversas partes do sistema construtivo, o dimensionamento dos núcleos funcionais, tridimensionalidade, adições

E finalmente as qualidades ecológicas do edifício são demonstradas pelos DIAGRAMAS DE ASPECTOS AMBIENTAIS E SUSTENTABILIDADE onde se descrevem os fluxos energéticos, de conforto ambiental, de ventilação de uso das águas, da vegetação e outros aspectos ligados à ecologia do projeto.

Esses sete itens acima listados têm se mostrado eficientes na descrição de projetos realizados tanto no escritório quanto na prática acadêmica onde os estudantes são incentivados a descrever os precedentes de seus projetos através dessas notações. Estimula-se que esses registros sejam feitos sempre que possível de forma propositiva, ou seja, contendo já, desde as primeiras análises, uma intenção projetual própria. Cada projeto a partir de suas especificidades terá maior ou menor ênfase em cada um dos tipos de diagramas acima listados.

Apesar de defensor da linguagem dos diagramas, Montaner em seu texto acima citado alerta para possíveis riscos de se entender os diagramas como um objetivo em si e alheios ao desenvolvimento progressivo da ideia arquitetônica onde “o excesso de abstração pode conduzir a propostas desconectadas da realidade nas quais predomina a autonomia e a arbitrariedade formal”. A seu ver ainda o diagrama, se mal entendido ou aplicado, pode se transformar numa “retórica projetual e levar a uma arquitetura formalista”, ou ainda “acontecer de forma muito arbitrária ou demasiado imediata e simples (...) gerando processos vazios”.

Assim é intenção que os diagramas estejam presentes como ferramenta de antecipação e explicação dos processos de projeto, mas nunca como produtos gráficos autônomos, na segunda parte deste estudo, onde serão apresentados projetos do escritório JDArq. Por esse motivo optou-se por apresentar obras construídas onde os processos antecipados e descritos pelas imagens diagramáticas podem ser confirmados, ou não, em seu resultado final.

(1) MONTANER, Josep Maria. Do diagrama às experiências, rumo a uma arquitetura da ação. Barcelona: Editorial Gustavo Gili,SL, 2017.

Obs. O texto acima faz parte da tese de doutorado de João Diniz na EAUFMG denominada ‘SEMENTES DO ESPAÇO: arquiteturas em processo’ que pode ser acessada na íntegra neste website em ‘Publicações’. Os exemplos gráficos aqui apresentados se referem aos projetos do autor analisados na tese.

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