João Diniz
4 de jun. de 2012
O POETA É UM ARQUITETO DE ILUSÕES NO DESERTO O verso acima faz parte de um poe ma escrito por mim há mais de 20 anos e publicado no Suplemento Literário do Minas Gerais.
A primeira edição de O LIVRO DAS LINHAS lançado pela Editora Caravana de Belo Horizonte em 2020 foi apresentada pelo escritor Tonico Mercador com o seguinte texto:
O POETA É UM ARQUITETO DE ILUSÕES NO DESERTO O verso acima faz parte de um poema escrito por mim há mais de 20 anos e publicado no Suplemento Literário do Minas Gerais: As 10 Máscaras do Poeta, inspirado nos amigos arquitetos que conseguem construir algo tão sólido e tão volátil quanto uma casa ou um sonho.
Não sem razão, lembro que o Manifesto das Sete Artes, escrito por Ricciotto Canudo em 1923 estabelece a Arquitetura como uma das artes clássicas, juntamente com a Literatura, Escultura, Música, Pintura, Dança e Cinema.
Dentre esses inspirados e inspira - dores amigos artistas arquitetos, João Diniz se destaca, utilizando a literatura como arcabouço e a poesia como ele - mento para erigir sua catedral de sons com palavras-pilares que sustentam o seu mundo concreto e abstrato.
Neste criativo, insensato, absoluto Livro das Linhas, cujos versos se empilham como um edifício, uma torre, um castelo, João Diniz confirma Kandinsky em seu livro Ponto e Linha sobre o Plano: “A linha geométrica é um ser invisível. É o traço que abandona o ponto ao se mover e, portanto, é o seu resultado. Surge do movimento ao destruir o re - pouso total do ponto. Aqui se dá o salto do estático ao dinâmico”.
Aqui, são várias as linhas que se movem, como se João Diniz quisesse, com elas, mostrar que é possível semear o deserto com palavras, que poemas podem conduzir o homem abandona - do, o homem só, a uma outra paisagem, a um estimulante devir.
Em Linha do pensamento, o poeta estimula o raciocínio, a poesia concreta de lúcidas esquinas; já em Linha do Horizonte, o poeta busca a distância, as sombras da ilusão, o sonho além da porta e da janela; Na Linha do tempo, ele se perde em lembranças, nas possibilidades do voo a um futuro indefinível, ao lance de dados que o acaso sempre abolirá; em Linha do corpo, o poeta é mãos, língua, sexo, tato, cheiro, senti - dos, desejos que se prologam no vento, no amor e no gozo; em Linha Melódica, ele se entrega ao ritmo, ao som, ao molejo de uma vida machucada, absorta em vivenciar outra vida, em experimentar o silêncio do outro. E João Diniz continua, esticando sua Linha de Ação para além de Drummond e a Máquina do Mundo, porque ao poeta cabe criar algo além da flor e do asfalto, da guer - ra e da carícia; e o poeta chega enfim à Linha da vida, desenhada em todas as mãos e onde estão revelados os palácios, os amores perdidos, a frugal felici - dade do cotidiano e a possibilidade do anjo inspirador.
Em Livro das Linhas, João Diniz compõe talvez a sua obra mais significativa, simbiótica entre concretude e abstração, entre racional e etéreo, ilu - são e realidade.
Tonico Mercador